Oncologista esclarece as principais causas do câncer de peritônio

Especialista comenta que o câncer primário no peritônio, chamado mesotelioma, é muito raro

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) diz que os tumores do peritônio podem ser primários, quando se desenvolvem na membrana peritoneal, ou secundários, quando são metástases de um câncer originado em outro local. Estima-se que mais de 90% dos casos façam parte do segundo grupo, ou seja, tratam-se de um câncer disseminado no peritônio (chamado carcinomatose peritoneal secundária).

Segundo a oncologista Patricia Câmara (CRM-SC 13.909 e RQE 10.756), os sintomas da doença incluem aumento de volume e massa de nódulos palpáveis no abdômen, no umbigo, líquido dentro do abdômen chamado ascite (barriga d’água), gases, mudança da alteração do hábito intestinal (diarreia ou constipação), náuseas, vômitos. Existem sintomas de doença avançada que, na maioria das vezes, provocam perda de peso sem mudança de dieta ou inclusão de atividade física, diminuição do apetite. “Se for o mesotelioma, câncer primário do peritônio, o principal fator de risco é a exposição ao asbesto, substância mineral que antigamente era utilizada nas construções civis para construir telhado”, aponta.

Diagnóstico de tumores no peritônio

Conforme a especialista, é feito por exames de imagem, como a ultrassonografia, tomografia ou ressonância, que podem mostrar líquido no abdômen e espessamento do peritônio (membrana mais grossa que nódulos). Ela conta que o diagnóstico também pode ser feito quando é investigado ou se trata outros tumores que dão metástase no peritônio. Por exemplo, um caso muito comum é a lesão no ovário que não pode ir para biópsia. É feito o procedimento para definir se é benigno ou maligno, e às vezes, retira-se o ovário. Os nódulos no peritônio são percebidos, e a metástase peritoneal é encontrada só na cirurgia.

Dra. Patricia Câmara – Foto divulgação

A médica pontua que existe mais uma possibilidade de diagnóstico quando a pessoa vai fazer a cirurgia por outro motivo. “Eu tive uma paciente recente que fez a operação de apendicite por vídeo. O cirurgião percebeu nódulos no peritônio e tirou um para biópsia. Era mesotelioma, tumor do peritônio, que não tinha nada a ver com o apêndice. Com o diagnóstico, fizemos o tratamento na fase mais inicial”, destaca.

Tratamento

De acordo com a médica, sempre que for possível, retira-se tudo na cirurgia, pois em geral, o paciente ganha tempo de sobrevida, qualidade de vida e fica livre da doença. Entretanto, tumores muito agressivos, em que é sabido a dificuldade de cura e estão com metástase, principalmente sarcomas e pâncreas, não adianta o procedimento cirúrgico tão grande, porque a chance de cura é muito baixa. “Tumores de intestino e ovário, com metástase no peritônio, se for possível remover, existe chance de cura com a cirurgia de citorredução (retira-se toda a doença) e a quimioterapia na veia”, argumenta.

A recidiva e o caso da cantora Preta Gil

Como lembra a oncologista, o câncer tem risco de voltar com o passar do tempo. Esse período em que o indivíduo está sem o tumor é chamado de remissão. Ela explica que só podemos dizer que o indivíduo está curado depois de cinco anos sem a doença. No caso da Preta Gil, antes de ela ser operada e começar a quimioterapia, uma célula já tinha saído do intestino, do tumor e ido para o peritônio e linfonodos. Para o linfonodo é pela via linfática. Existem vasos linfáticos parecidos com os vasos sanguíneos. A célula pode cair ali, passear, caminhar no corpo e parar nos linfonodos.

No peritônio, o tumor do intestino começa na camada de dentro, atravessa as paredes e quando rompe a última camada, o peritônio do intestino, ele consegue deslocar células de dentro da cavidade abdominal e elas caem em cima de outros órgãos vizinhos (intestino fino, bexiga, útero, ovário), se aderem ali, começam a multiplicar, formando nódulos, bolinhas e os implantes peritoneais. “Antes de a Preta Gil operar, fazer quimioterapia, isso já tinha acontecido, mas por serem células microscópicas, não apareceram nos exames e não foram vistas na cirurgia. Depois que ela parou o tratamento, com tempo sem quimio, essas células ficaram por um tempo adormecidas, acordaram, voltaram a multiplicar e apareceram um nódulo nos exames de imagem”, finaliza.