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O controverso método com que Bukele pacificou El Salvador e o que promete se for reeleito

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El Salvador deixou de ser um dos países mais violentos do mundo. A nação centro-americana chegou a receber o concurso Miss Universo e os astros de futebol da equipe do argentino Lionel Messi.

O país certamente passou por muitas mudanças nos últimos anos. Agora, ele ocupa as manchetes internacionais com eventos que poucos poderiam imaginar que seriam realizados no chamado “Pequeno Polegar das Américas”.

A principal razão dessas transformações é a pacificação do país, atingida com a chamada “guerra contra as gangues”, liderada pelo presidente Nayib Bukele, que tentará a reeleição no domingo (4/2) – apesar de acusações de que sua candidatura infringiria a Constituição salvadorenha.

Sua estratégia de segurança é considerada tão bem sucedida quanto polêmica. Ela reduziu os homicídios aos níveis mínimos históricos do país, mas também gerou milhares de denúncias de supostas violações de direitos humanos.

Por outro lado, os índices de popularidade de Bukele não têm precedentes no país. Ele lidera as últimas pesquisas com 70 a 80% das intenções de voto.

Consciente da sua vantagem estratosférica sobre os demais candidatos, Bukele sequer apresenta um programa formal público de ideias e propostas de campanha. Ele não tem dúvidas de que as conquistas do seu primeiro mandato respaldam e garantem o apoio da maioria do povo salvadorenho.

“Somos um novo El Salvador, com uma nova história que começamos a escrever em 2019 [o ano da sua eleição]”, destaca Bukele. “O país é totalmente reconhecido por pessoas de todas as nações, que confirmam o nosso potencial.”

Mas como El Salvador mudou tanto desde que Bukele assumiu a presidência, há quase cinco anos? E o que se pode esperar de um hipotético, mas quase certo, segundo mandato?

Recordes de segurança

A principal mudança verificada durante o governo de Bukele, sem dúvida, é a redução de homicídios naquele que já foi um dos países mais violentos do mundo.

Dados do governo indicam que 2023 foi o ano mais seguro da história do país. Foram, em média, 0,4 homicídios por dia, o que coloca El Salvador como “o segundo país do continente americano e o primeiro da América Latina com o menor índice de homicídios, atrás apenas do Canadá”, diz o ministro da Segurança, Gustavo Villatoro.

Mas organizações como o Observatório Universitário de Direitos Humanos da Universidade Centro-Americana de El Salvador criticaram os números do governo no passado. Eles acreditam que não há certeza de que estejam incluídas as mortes de supostos chefes de gangues em enfrentamentos com a polícia, ou aquelas ocorridas sob a custódia do Estado.

De qualquer forma, a realidade é que a maioria dos salvadorenhos garante que vive com mais tranquilidade, sem sofrer extorsões e podendo circular por regiões que, antes, eram tomadas pelas gangues que aterrorizaram o país durante décadas.

Oito em cada dez pessoas acreditam que El Salvador é um país mais seguro, ou não percebem um clima de medo, segundo um estudo publicado em janeiro pela Universidade Francisco Gavidia, de El Salvador.

O marco principal dessa estratégia foi o regime de exceção decretado no país em março de 2022. A decisão suspendeu as garantias constitucionais e multiplicou as denúncias de detenções arbitrárias sem ordem judicial e mortes sob a custódia do Estado.

“Este lugar não era nada seguro até que o presidente fez [o regime de exceção]. Acredito que o regime foi a melhor decisão que poderia ser tomada e que ele é o melhor presidente que já existiu”, afirmou a jovem Dennise durante uma visita da BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC) ao bairro de La Campanera, nos arredores da capital do país, San Salvador, em março de 2023.

O bairro era um dos mais perigosos da capital e reduto da gangue chamada Barrio 18. Agora, é um exemplo de bairro recuperado.

A medida resultou, até o momento, na prisão de mais de 75 mil pessoas por supostos vínculos com as gangues. Destes, mais de 7 mil foram libertados, segundo os números do governo.

El Salvador se tornou o país com o maior índice de presos do mundo, o que ficou simbolizado pela construção do Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot) – a chamada “megaprisão”, definida por Bukele como a maior penitenciária do continente americano.

“A principal característica deste governo de Bukele foi uma séria deterioração democrática, acompanhada de políticas eficazes para reduzir a violência dos homicídios, mas à custa de atentar contra os pilares da democracia e de uma alta concentração de poder na sua figura”, resume Ana María Méndez-Dardón, diretora para a América Central do Escritório para Assuntos Latino-Americanos em Washington (WOLA, na sigla em inglês), nos Estados Unidos.

Já a analista política e advogada salvadorenha Bessy Ríos concorda que “de fato, ele conseguiu controlar as gangues de forma muito impressionante, mas a um alto custo para a sociedade, que absorveu a narrativa de que foram suspensos os direitos ‘somente dos maus e não dos bons’.”

“E isso não é verdade: a suspensão de direitos em El Salvador atinge a todos”, afirma Ríos.

“Para o Executivo, funcionou o quid pro quo de ‘eu dou segurança em troca dos seus direitos humanos’. E é lamentável, porque as pessoas deveriam entender que o Estado não pode praticar extorsão e dar uma coisa em troca de outra. Ele deve garantir tanto os direitos humanos quanto a segurança”, diz ela, em entrevista à BBC News Mundo.

Turismo e megaprojetos

Com esta nova realidade, o governo de Bukele concentrou esforços para atrair a atenção para o país, demonstrando ao resto do mundo que El Salvador não é mais o país perigoso que era anos atrás e que muitas pessoas tinham medo de visitar.

Por isso, o pequeno país passou a sediar grandes eventos, como o concurso de Miss Universo e os Jogos Centro-Americanos e do Caribe.

Recentemente, o Inter Miami, de Lionel Messi, levou San Salvador à loucura, ao viajar para o país para enfrentar a seleção nacional de futebol em um jogo amistoso.

O turismo começou então a reagir. O aeroporto internacional da capital atendeu, no ano passado, cerca de 4,5 milhões de passageiros – um aumento de 32% sobre o ano de 2022.

De janeiro a setembro do ano passado, El Salvador passou a ser o quarto país do mundo com maior aumento da chegada de turistas internacionais (35%) em comparação com 2019, segundo a Organização Mundial do Turismo.

Neste sentido, o governo de Bukele apostou em iniciativas como a Cidade do Surfe, um projeto no litoral do país para tentar posicionar as praias de El Salvador como referência entre os turistas amantes do esporte.

Mas este projeto também já gerou os primeiros sinais de gentrificação da região e trouxe preços que dificilmente serão absorvidos pela população nacional.

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