Saúde
A urgência de movimentar as pernas: entenda a síndrome das pernas inquietas
É importante entender que a pessoa tem uma sensação desagradável primeiro, pois ela precisa se mexer para aliviar essa sensação ruim, logo esse movimento não é automático, ela acaba ficando inquieta
O comentarista, escritor esportivo e político norte-americano Keith Olbermann sofre com a síndrome das pernas inquietas. Segundo a neurologista Ana Carolina Gomes, é uma doença neurológica comum, presente entre 5 a 10% da população, caracterizada por sensações desagradáveis aliviadas com o movimento, agravadas no período noturno pelo repouso e não são causadas por outra doença, podendo provocar consequências que impactam na qualidade de vida.
No entanto, isso vai depender da gravidade dos sintomas, da própria sensibilidade do indivíduo e da presença de comorbidades, que já atrapalham o sono do indivíduo, entre outros fatores. “Existem pessoas que ficam tão incomodadas e trocam o dia pela noite, pois os sintomas são menos graves pela manhã e isso pode prejudicar muito a qualidade de vida. Dividir a cama com alguém que tem síndrome das pernas inquietas pode, também, ser bastante incômodo”, aponta.
Diagnóstico
Ana Carolina explica que o diagnóstico é confirmado por polissonografia e o índice de movimentos periódicos de membros é usado para determinar a gravidade, podendo ser normal, leve a moderado e grave. Podem estar relacionados com doenças neurológicas e está presente em 50 a 90% dos pacientes com síndrome das pernas inquietas. “O uso de alguns medicamentos podem predispor ao aparecimento deles, como o lítio, os antidepressivos e os antipsicóticos. Mas não vá suspender nenhuma dessas medicações sem antes falar com seu médico. O tratamento medicamentoso ainda é controverso, exceto quando associado à síndrome das pernas inquietas”, orienta.
Causa
De acordo com a neurologista, a síndrome das pernas inquietas pode ter contribuições genéticas em alguns casos, como nos indivíduos jovens (apresentando uma maior contribuição de fatores ambientais), ou comorbidades, especialmente em pessoas de mais idade. “Até o momento, sabe-se que a síndrome das pernas inquietas engloba fatores genéticos, disfunção de neurotransmissores e deficiência de ferro, mas não foi encontrado um gene único que poderia estar associado e, sim, alguns que não causam a doença em 100% das pessoas”, diz.
Ferro
No cérebro, como esclarece Ana Carolina, o ferro é necessário para a geração de dopamina, funcionamento correto das sinapses e síntese de mielina. Ela conta que existem dados de autópsia, ressonância magnética, sonografia cerebral e análise de líquido cefalorraquidiano (líquido que banha o sistema nervoso central) apoiando a ligação entre síndrome das pernas inquietas e ferro cerebral baixo.
Fatores agravantes
São a deficiência de ferro, alguns medicamentos, gravidez, insuficiência renal crônica e imobilidade prolongada. A neurologista conta que alguns medicamentos podem precipitar ou agravar a síndrome das pernas inquietas, ou movimentos periódicos dos membros durante o sono. Isso inclui anti-histamínicos sedativos, alguns antagonistas do receptor da dopamina ativos centralmente, como os neurolépticos e a maioria dos antidepressivos.
Tratamento
Conforme a médica, o tratamento não farmacológico é muito importante, já que 65% dos pacientes buscam tratamentos alternativos para os sintomas da síndrome das pernas inquietas. “Inicialmente, é necessário instruir o paciente a fazer higiene do sono, quando possível, controlar ou retirar fatores precipitantes como alguns medicamentos, café e álcool”, recomenda. Ana Carolina aconselha que as reposições de ferro e vitaminas C e E, quando indicadas, sejam feitas corretamente. Outras vitaminas baixas no sangue podem aumentar sintomas de desconforto e devem também ser repostas, como, por exemplo, vitamina B12, ácido fólico e vitamina B6.
Fármacos
A especialista comenta que muitos agentes farmacológicos podem ser eficazes para o manejo dos sintomas da síndrome das pernas inquietas. “Até recentemente, o tratamento de primeira linha consistia em doses baixas de agonistas dopaminérgicos, como o pramipexol, por exemplo. Contudo, eles causam altas taxas de piora progressiva dos sintomas após algum tempo de uso (fenômeno da aumentação). Portanto, diretrizes internacionais recomendam que, sempre que possível, o tratamento inicial deva ser feito com antagonistas de canais de cálcio do tipo α2δ ligantes, como a pregabalina e a gabapentina”, ressalta.
Ela lembra que caso sejam prescritos, agonistas dopaminérgicos devem ser na menor dose efetiva e por pouco tempo. A terapia com ferro, mesmo com níveis de ferritina um pouco acima do considerado insuficiente para a síndrome das pernas inquietas, pode ser considerada em pacientes com sintomas refratários.
Movimentos periódicos dos membros durante o sono. O que isso tem a ver com síndrome das pernas inquietas?
Para a médica, muita gente acredita que a síndrome das pernas inquietas são movimentos automáticos, pois elas já observaram os companheiros ou familiares mexerem os pés enquanto dormem. “Uma coisa são os movimentos que aliviam o desconforto na síndrome das pernas inquietas, que são voluntários, ou seja, a pessoa está acordada e movimenta o membro afetado para aliviar uma sensação ruim. Já aqueles pequenos movimentos que alguns indivíduos fazem dormindo podem ser os movimentos periódicos dos membros durante o sono. Eles podem, sim, estar associados à síndrome das pernas inquietas, inclusive geralmente estão, mas não necessariamente”, salienta a neurologista.
Eles são caracterizados por movimentos dos membros que ocorrem durante o sono, muitas vezes sem a percepção do paciente, como a flexão dos dedos, dos pés e dos tornozelos associados ou não à flexão do quadril e joelhos. Pode haver uma dificuldade em ter um sono de qualidade, já que esses pequenos movimentos podem gerar múltiplos microdespertares — que são tão breves que geralmente nem é lembrado, mas que podem deixar o sono pior.
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